Não sou muito afeito aos comentários de Reinaldo Azevedo, que escreve para a Veja (tanto para a versão impressa como para o site). Considero os seus textos muito destrutivos, meio facistas. Mas hoje me deparei com um artigo dele que merece leitura. No texto, ele trata do papel das oposições, fala da fatia milionária do orçamento que é dispensada aos partidos e faz duras críticas aos engalfinhamentos internos do PSDB e do DEM. Vale dar uma olhada.
Transcrevo na íntegra:
Já há alguns dias tenho feito aqui algumas críticas duras às oposições. Para quem sabe ler, nunca deixei de fazê-las, mas acerta quem acredita que tenho restrições ainda maiores ao eixo PT-PMDB. Assim, por contraste, ficava parecendo que achava as oposições uma maravilha. Nunca. Há oposicionistas que admiro, o que é coisa bem diferente. Pois bem: ontem, noticiei aqui a truculência de que foi alvo o deputado Marcos Montes (DEM-MG), acusado pelos partidários de Aécio Neves de ser um espião de Serra em Minas — definitivamente, o estado está sendo tratado como uma capitania hereditária. Montes foi “convencido” pelos aecistas a retirar a sua pré-candidatura a líder do DEM! Ou seria considerado um inimigo do “Projeto Minas”.
O “Projeto Minas” decidiu que a liderança deve ir para ACM Neto (BA). Montes entendeu — quem sabe ele tenha entendido errado…— que seus problemas começariam na política e poderiam terminar na Justiça caso não obedecesse. Se a imprensa de Minas ou do resto do país quiser saber como tudo se deu, é só escarafunchar. Esse método de fazer política foi celebrizado numa obra de Mário Puzo, que virou filme, conhecido entre nós por “O Poderoso Chefão”.
Escrevi ontem o óbvio a respeito. Assim não se vai longe; assim, o PT só terá o trabalho de passar o poder das mãos de Dilma para as de Dilma ou das dela para aquele que Gilberto Carvalho chama “o Pelé que está na reserva”: Lula. Trata-se, como é óbvio, de política de aniquilamento de aliados considerados incômodos na esperança de que muitos adversários serão seduzidos depois, na trajetória. Então tá!
O ato truculento aconteceu. Ponto final! Aconteceu ainda que Montes negue. E eu cumpri a minha obrigação: noticiar. Recebi uma impressionante saraivada de ofensas, que deve ter continuidade ainda hoje. Muitas delas deixam os petralhas no chinelo. Alguns entusiastas do “Projeto Minas” devem estar me confundindo com Marcos Montes. Se pudessem, me ameaçariam com pressões que iriam da “política à Justiça”. O senador eleito Aécio Neves (PSDB), o líder do tal “Projeto”, certamente não tem nada com isso, mas deveria fazer como um general da ditadura: segurar os seus radicais. Nem toda a imprensa vive como certo soneto de Cláudio Manuel da Costa — camoniano mineiro do arcadismo que admiro muito —, cercada pelos morros de Minas.
Até presto um serviço ao advertir: por aí não se vai longe porque a política hoje em dia passa por outras plagas. Já não basta contar com o silêncio simpático do jornalismo influente. Quem ainda não entendeu que as tais “massas” vieram para ficar na política não está entendendo o Brasil. E, até aqui, estou apenas no preâmbulo.
“O que você tem com isso, Reinaldo?”
Os mais exaltados perguntam o que tenho com isso e questionam a minha legitimidade para fazer as críticas que venho fazendo à consistência ideológica de mingau das oposições. O que tenho com isso? Ora, tudo! Como todo brasileiro, eu também financio a oposição, que recebe, a exemplo dos partidos do governo, uma verba oficial milionária PARA FAZER OPOSIÇÃO. Verba milionária? Sim, já existe financiamento público de campanha no Brasil, que se dá por intermédio do fundo partidário.
No Orçamento deste ano, os partidos, por acordo, votaram um acréscimo de 62% da bufunfa, que saltou de R$ 165 milhões para R$ 265 milhões — bem acima da inflação, como se nota. O DEM encolheu, mas a verba aumentou: passou de R$ 12,15 milhões para R$ 19,48 milhões. A do PSDB saltou de R$ 18,93 para R$ 30,34 milhões. O PMDB é o segundo que mais recebe: de R$ 20,65 milhões para R$ 33,09 milhões. O PT, claro!, leva a maior bolada: de R$ 26,74 milhões para R$ 42,85 milhões. Não é só isso, não. O horário político dos partidos custa aos cofres públicos quase R$ 250 milhões.
Logo, não venham me perguntar “o que tenho com isso”. Tudo! A oposição é um fundamento das democracias. As sociedades pagam caro para ter partidos e instituições funcionando. Vênia máxima, o DEM e o PSDB recebem aquela bolada para se opor ao governo petista — é claro que tem de ser um oposição com conteúdo, princípios etc e tal. Nem vou entrar no mérito do quão propositivo deva ser um partido da minoria. Isso é um dado da equação. Esse negócio de garantir “oposição construtiva” é retórica balofa do século passado. É claro que será construtiva e construtora da democracia, não é mesmo? Afinal, só nas democracias existem oposicionistas e é possível dizer “não”!
Não só o eleitorado decidiu que o DEM e o PSDB fariam oposição como financia essa operação, que não é privada dos partidos, não! Tampouco pertence a indivíduos ou a “projetos”. Oposições são instituições dos regimes democráticos. Se elas se negam a exercer o seu papel, outros vêm e tomam o seu lugar — ou, então, o eleitorado decide que elas são mesmo dispensáveis. Se é para ter a ditadura do consenso, pra que pagar caro pelo PSDB e pelo DEM? Melhor que saiam de cena!
Postura ridícula
A postura desses dois partidos, por ora, tem sido de um ridículo ímpar. O PT e o PMDB, vá lá, vão cumprindo o que deles se espera, entre o exercício do mando e um assalto ou outro aos cofres públicos. Tucanos e democratas assistem impassíveis à disputa indecorosa na Funasa, por exemplo. Vêem agora a presidente Dilma Rousseff adiar a compra dos aviões e dos navios porque, descobriu-se, as contas públicas não suportam. Quais? Aquelas que estavam arrumadíssimas? O Enem, pelo segundo ano consecutivo, joga milhões de alunos na incerteza. Um técnico do governo admite no Congresso que o governo federal falhou miseravelmente na tragédia do Rio.
E o que fazem as oposições? Com os milhões que vêm, entregam-se a frufrus e salamaleques com os adversários e ficam promovendo guerrinhas internas para ver quem será o senhor da varinha curta. E aí vêm me perguntar o que eu tenho com isso???
Ora, decência, por favor! Cumpram o papel para o qual são regiamente pagos: vigiar o governo e apresentar alternativas, acusando os eventuais desvios de conduta em relação àquilo que vai na lei. Mesmo em países menos generosos no financiamento público de partidos, é o que fazem as oposições. Pagamos caro para ter oposição, e elas têm de prestar esse serviço. Ou serão demitidas pelo eleitor!
O texto está publicado no site da revista Veja. Acesse aqui
Transcrevo na íntegra:
Já há alguns dias tenho feito aqui algumas críticas duras às oposições. Para quem sabe ler, nunca deixei de fazê-las, mas acerta quem acredita que tenho restrições ainda maiores ao eixo PT-PMDB. Assim, por contraste, ficava parecendo que achava as oposições uma maravilha. Nunca. Há oposicionistas que admiro, o que é coisa bem diferente. Pois bem: ontem, noticiei aqui a truculência de que foi alvo o deputado Marcos Montes (DEM-MG), acusado pelos partidários de Aécio Neves de ser um espião de Serra em Minas — definitivamente, o estado está sendo tratado como uma capitania hereditária. Montes foi “convencido” pelos aecistas a retirar a sua pré-candidatura a líder do DEM! Ou seria considerado um inimigo do “Projeto Minas”.
O “Projeto Minas” decidiu que a liderança deve ir para ACM Neto (BA). Montes entendeu — quem sabe ele tenha entendido errado…— que seus problemas começariam na política e poderiam terminar na Justiça caso não obedecesse. Se a imprensa de Minas ou do resto do país quiser saber como tudo se deu, é só escarafunchar. Esse método de fazer política foi celebrizado numa obra de Mário Puzo, que virou filme, conhecido entre nós por “O Poderoso Chefão”.
Escrevi ontem o óbvio a respeito. Assim não se vai longe; assim, o PT só terá o trabalho de passar o poder das mãos de Dilma para as de Dilma ou das dela para aquele que Gilberto Carvalho chama “o Pelé que está na reserva”: Lula. Trata-se, como é óbvio, de política de aniquilamento de aliados considerados incômodos na esperança de que muitos adversários serão seduzidos depois, na trajetória. Então tá!
O ato truculento aconteceu. Ponto final! Aconteceu ainda que Montes negue. E eu cumpri a minha obrigação: noticiar. Recebi uma impressionante saraivada de ofensas, que deve ter continuidade ainda hoje. Muitas delas deixam os petralhas no chinelo. Alguns entusiastas do “Projeto Minas” devem estar me confundindo com Marcos Montes. Se pudessem, me ameaçariam com pressões que iriam da “política à Justiça”. O senador eleito Aécio Neves (PSDB), o líder do tal “Projeto”, certamente não tem nada com isso, mas deveria fazer como um general da ditadura: segurar os seus radicais. Nem toda a imprensa vive como certo soneto de Cláudio Manuel da Costa — camoniano mineiro do arcadismo que admiro muito —, cercada pelos morros de Minas.
Até presto um serviço ao advertir: por aí não se vai longe porque a política hoje em dia passa por outras plagas. Já não basta contar com o silêncio simpático do jornalismo influente. Quem ainda não entendeu que as tais “massas” vieram para ficar na política não está entendendo o Brasil. E, até aqui, estou apenas no preâmbulo.
“O que você tem com isso, Reinaldo?”
Os mais exaltados perguntam o que tenho com isso e questionam a minha legitimidade para fazer as críticas que venho fazendo à consistência ideológica de mingau das oposições. O que tenho com isso? Ora, tudo! Como todo brasileiro, eu também financio a oposição, que recebe, a exemplo dos partidos do governo, uma verba oficial milionária PARA FAZER OPOSIÇÃO. Verba milionária? Sim, já existe financiamento público de campanha no Brasil, que se dá por intermédio do fundo partidário.
No Orçamento deste ano, os partidos, por acordo, votaram um acréscimo de 62% da bufunfa, que saltou de R$ 165 milhões para R$ 265 milhões — bem acima da inflação, como se nota. O DEM encolheu, mas a verba aumentou: passou de R$ 12,15 milhões para R$ 19,48 milhões. A do PSDB saltou de R$ 18,93 para R$ 30,34 milhões. O PMDB é o segundo que mais recebe: de R$ 20,65 milhões para R$ 33,09 milhões. O PT, claro!, leva a maior bolada: de R$ 26,74 milhões para R$ 42,85 milhões. Não é só isso, não. O horário político dos partidos custa aos cofres públicos quase R$ 250 milhões.
Logo, não venham me perguntar “o que tenho com isso”. Tudo! A oposição é um fundamento das democracias. As sociedades pagam caro para ter partidos e instituições funcionando. Vênia máxima, o DEM e o PSDB recebem aquela bolada para se opor ao governo petista — é claro que tem de ser um oposição com conteúdo, princípios etc e tal. Nem vou entrar no mérito do quão propositivo deva ser um partido da minoria. Isso é um dado da equação. Esse negócio de garantir “oposição construtiva” é retórica balofa do século passado. É claro que será construtiva e construtora da democracia, não é mesmo? Afinal, só nas democracias existem oposicionistas e é possível dizer “não”!
Não só o eleitorado decidiu que o DEM e o PSDB fariam oposição como financia essa operação, que não é privada dos partidos, não! Tampouco pertence a indivíduos ou a “projetos”. Oposições são instituições dos regimes democráticos. Se elas se negam a exercer o seu papel, outros vêm e tomam o seu lugar — ou, então, o eleitorado decide que elas são mesmo dispensáveis. Se é para ter a ditadura do consenso, pra que pagar caro pelo PSDB e pelo DEM? Melhor que saiam de cena!
Postura ridícula
A postura desses dois partidos, por ora, tem sido de um ridículo ímpar. O PT e o PMDB, vá lá, vão cumprindo o que deles se espera, entre o exercício do mando e um assalto ou outro aos cofres públicos. Tucanos e democratas assistem impassíveis à disputa indecorosa na Funasa, por exemplo. Vêem agora a presidente Dilma Rousseff adiar a compra dos aviões e dos navios porque, descobriu-se, as contas públicas não suportam. Quais? Aquelas que estavam arrumadíssimas? O Enem, pelo segundo ano consecutivo, joga milhões de alunos na incerteza. Um técnico do governo admite no Congresso que o governo federal falhou miseravelmente na tragédia do Rio.
E o que fazem as oposições? Com os milhões que vêm, entregam-se a frufrus e salamaleques com os adversários e ficam promovendo guerrinhas internas para ver quem será o senhor da varinha curta. E aí vêm me perguntar o que eu tenho com isso???
Ora, decência, por favor! Cumpram o papel para o qual são regiamente pagos: vigiar o governo e apresentar alternativas, acusando os eventuais desvios de conduta em relação àquilo que vai na lei. Mesmo em países menos generosos no financiamento público de partidos, é o que fazem as oposições. Pagamos caro para ter oposição, e elas têm de prestar esse serviço. Ou serão demitidas pelo eleitor!
O texto está publicado no site da revista Veja. Acesse aqui
Comentários
Sobre o seu comentário, que abre este post e apresenta o texto transcrito, não compreendi muito bem o porquê dele ser meio fascista.
Já em relação a colunistas destrutivos, sim, há de se considerar este adjetivo para ele. Contudo, não vejo colunista pior nesse aspecto do que um cidadão chamado Rodorval Ramalho, pois, para além de sua orientação política, seus textos são destrutivos, com muita adjetivação, pouco fundamentados e mal escritos. Parece que não tem outro tema a tratar senão falar mal do PT e do governo, e, como já disse, com excesso de adjetivos que acabam por nivelar por baixo a análise que se pretende fazer.
É deveras curioso saber o que ainda o mantém como colunista de um renomado jornal deste Estado, o qual você conhece bem.
No mais, Valter, parabéns por seu blog. Sempre visito e gosto muito do que você escreve.
Abraço.