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Em debate ‘vencido’ por Bonner, Dilma saiu incólume

Por Josias de Souza

Por sorte, o último dabate do primeiro turno foi de graça. Se tivesse bilheteria, a platéia ia pedir o dinheiro de volta.

Depois de toda a expectativa, o embate foi só aquilo? Tempo livre para a preparação, assessores, a estrutura da Globo, camarins, comes de bebes, maquiador, boa audiência, estúdio climatizado, iluminação, câmeras, som.

Enfim, um palco perfeito, condizente com a dramaticidade de um evento à beira das urnas. Tudo isso para os contendores darem aquele espetáculo pobre? Ora, francamente!

Estava entendido que não teria troca de socos ou mordidas na orelha. Mas esperava-se um pouco mais. Uma boa frase, uma metáfora elaborada, uma ironia fina. Qualquer coisa que compensasse o desperdício do sono de quem não dormiu.

Foi uma discussão soporífera. Vencedor? O Willian Bonner. Perdedor? O telespectador. Não se diga que eram adversários de pouca expressão. Sob os holofotes, os dois pesos pesados da sucessão.

Dilma e Serra não se dignaram a dirigir um ao outro uma mísera pergunta. No caso dela, compreensível. As pesquisas já lhe dão a vitória por pontos. Subiu no ringue para expor a braçadeira de Lula e exercitar a esquiva.

Mas e quanto a ele? Precisava de um nocaute verbal. E refugiou-se atrás de sua própria inexpressividade. Nem de Erenice Guerra Serra se animou a falar. O caso da violação fiscal? Nem pensar.

No raro instante em que ergueu os punhos, Serra esmurrou a peso leve Marina. Sim, isso mesmo, Serra socou sua única e escassa esperança de segundo turno.

Aliás, diferentemente de Serra, Plínio e Marina retiraram da cena global o máximo proveito. O peso pena Plínio, sabendo-se inviável, distribuiu provocações. E fez a propaganda dos candidatos do PSOL ao Legislativo.

Marina estava desenvolta. Quando lhe coube perguntar, dirigiu-se ora a Dilma ora a Serra. “São muito parecidos”, jabeou. Dois gerentes “sem visão estratégica”.

Numa das perguntas a Serra, Marina lembrou que tucanos e ‘demos’ torciam o nariz para o Bolsa Família. Cobrou autocrítica.

Serra avocou para si a gênese do programa. Na Saúde, disse, criou o Bolsa Alimentação, que junto com outros programas de FHC, Lula unificou. “Acho estranho. Toda vez vem a mesma pergunta e volta a mesma resposta”, reclamou.

Marina não se deu por achada: “Faço questão de perguntar, porque, para mim, os programas sociais são importantes”, disse ela na réplica. Acusou Serra de ajustar o discurso conforme à “conveniência” eleitoral.

O tucano perdeu a calma. “Não use a sua régua para medir os outros”. Devolveu a comparação que Marina fizera com Dilma. “Vocês tem coisas muito parecidas”, bateu.

Até recentemente, era do PT. Pior: “Ficou no governo do mensalão”.

Alcançado pelo celular, um aliado de Serra disse ao repórter que murchou na poltrana do estúdio. Imaginava que seu candidato acionaria miraria em Dilma, não em Marina. De alvo potencial, a pupila de Lula tornou-se expectadora.

Guiando-se pela cartilha da marquetagem, Dilma fez o que lhe convinha fazer. Ligou os feitos do “nosso governo” aos desacertos do “governo passado”. E, livre das questões sobre escândalos, portou-se com equilíbrio e ponderação.

Deve-se a Plínio, não a Serra, a única passagem constrangedora de Dilma. Dizendo-se orgulhoso do PSOL, ele perguntou se os rivais tem vergonha de seus partidos. Dilma enalteceu o PT, preferido de “cerca de 30% dos brasileiros”.

Na réplica, Plínio disse que as doações de sua campanha foram à internet. E Dilma: “Registramos as doações no TSE. Gostaria de deixar claro que todas as doações são oficiais”. A platéia (cerca de 200 pessoas) foi às gargalhadas.

“Lamento os risos de quem tem outras práticas. A minha não é essa”, Dilma respondeu. E pôs-se a elogiar a coligação que a rodeia, um consórcio que vai do PMDB ao PCdoB, passando por um imenso etc.

Não se viu nas duas horas de debate um lance capaz de mover a tendência do eleitorado. Quando muito, Marina ganhou uns votinhos a mais. “Duas mulheres no segundo turno”, ela pediu, nas considerações finais.

Depois de Willian Bonner, Dilma foi a principal beneficiária da pasmaceira. Saiu ilesa. Além dos telespectadores, Serra foi o grande prejudicado. Com uma diferença: a platéia foi vítima involuntária. O tucano foi vencido pela própria mediocridade.

Ainda que a gratuidade das cenas dispense os recursos ao Procon, a audiência, se pudesse, dirigiria um pedido coletivo à Globo: Por favor, sem replays. Nada de ficar reproduzindo o impensável nos telejornais.

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