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Eleição vira guerra de sutilezas, travada no Sudeste

Por Josias de Souza


Nelson Almeida/AFP
 Nelson Rodrigues ensinou que “a dúvida é autora de insônias cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível”. Tomados pelo último Datafolha, Dilma Rousseff e José Serra foram como que condenados a uma vigília de duas semanas.

Até o próximo dia 31, os dois candidatos não poderão piscar. O último refúgio da disputa sucessória é a incerteza. Na conta global, Dilma dispõe agora de seis pontos de vantagem sobre Serra. Ela, com 47%, ainda prevalece. Mas ele, com 41%, sobrevive no jogo.

A pesquisa informa: a grossa maioria do eleitorado declara-se decidido. Entre os eleitores de Dilma, o grau de convicção é de 91%. Entre os de Serra, 89%. A petrificação do voto converteu a eleição numa guerra de detalhes e sutilezas. Vai prevalecer quem fizer a sintonia mais fina.


Sebastião Moreira/EFe
 A batalha final tende a ser travada no Sudeste, região onde está assentada quase metade do eleitorado do país: 43,4%. Nesse pedaço estratégico do mapa, Dilma e Serra estão tecnicamente empatados. Ele com 44%. Ela, 43%. Os dois comitês de campanha já farejaram a relevância do front. Ambos decidiram concentrar a infantaria em São Paulo, Minas e Rio.

No país, os eleitores indecisos somam 8%. No Sudeste, o percentual de votos pendentes de definição é idêntico: 8%. É nesses eleitores, somados aos que ainda admitem mudar de opção, que as campanhas terão de mirar.


Marlene Bergamo/Folhapress
 Praticamente todas as teorizações políticas já foram feitas sobre 2010. Serra já foi favorito. Dilma já experimentou sua fase de imbatível. Empurrada para um segundo turno que parecia improvável, a disputa entrou numa fase em que a delicadeza do método vale mais do que a força das ações.

Trata-se de adotar atitudes tendentes mais à ponderação que ao radicalismo. Tisnada pelo realismo, a cena não comporta otimismos. Tudo isso contra um relógio cujos ponteiros mais parecem lanças. O bom conselheiro diria aos candidatos: Na dúvida, não duvide. Tem que fazer? Faz logo. E direito.


Lalo de Almeida/Folhapress
 Nesse ambiente, o debate religioso que monopolizou as atenções nos últimos dias tende a descer ao verbete da enciclopédia como um derperdício de tempo. Segundo o Datafolha, enquanto Dilma e Serra falavam de Deus e de aborto, o eleitor que mais se moveu foi justamente o que declara não ter religião.

Nesse universo (5,8% do eleitorado), Dilma caiu seis pontos em uma semana: de 51% foi a 45%. E Serra subiu cinco pontos: tinha 35%, foi a 40%. Entre os que dizem religiosos, as oscilações captadas pelo Datafolha ocorreram dentro da margem de erro (dois pontos) ou muito próximas dela.


Sérgio Lima/Folhapress

No nicho dos evangélicos não pentecostais (irrisórios 6,3% do total de eleitores do país), Dilma caiu quatro pontos: 40% para 36%. Serra subiu dois: 48% para 50%. Entre os frequentadores evangélicos pentecostais (coisa de 6% do eleitorado), Dilma e Serra caíram um mísero ponto cada um. A maioria católica (62% dos brasileiros) dá de ombros para o lero-lero que aproxima o debate da sacristia.

Nesse grupo, Dilma manteve seus 51%. E Serra, que tinha 39%, oscilou um escasso ponto para baixo. Tem agora 38%. São evidências de que os candidatos ganhariam mais se não permitissem que padres e pastores dominassem a agenda.


Andre Penner/AP

Trocando aborto e união civil de gays por educação e meio ambiente, passariam a dialogar com os eleitores que optaram por Marina Silva no primeito round. Somam 19,3% do eleitorado. Coisa de 20 milhões de votos. O Datafolha informa que 51% pendem para Serra e 23% dizem preferir Dilma. Mas há ainda 11% de ex-eleitores de Marina que dizem votar em branco e, mais importante, 15% se declaram indecisos.

É gente que observa a evolução dos detalhes. Por exemplo: 25% dos que optaram por Marina dizem valorizar o apoio da derrotada a um dos dois sobreviventes. A dúvida, “autora de insônias cruéis”, não comporta equívocos. Não se chega à certeza, “barbitúrico irresistível”, pelo atalho fácil do oportunismo beato.

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