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As carências do Brasil

O País avançou nas últimas duas décadas, mas enquanto não investir em áreas essenciais para o seu desenvolvimento, como saneamento, segurança e infraestrutura, jamais deixará de ser um emergente
Por Bruna Cavalcanti, da revista Istoé

Poucas vezes na entrecortada história da democracia brasileira os eleitores foram às urnas escolher um novo presidente tão confiantes de que o futuro reserva momentos melhores para o País como agora. Independentemente de quem seja o eleito ou a eleita no dia 3 de outubro, pouca gente duvida que os próximos anos serão de crescimento econômico, inflação sob controle, melhor distribuição de renda e uma generalizada melhoria na qualidade de vida. Ao longo da última década e meia, com alguns sustos e tropeções no caminho, tem sido assim e, ao que parece, os tempos do voo de galinha ficaram no passado. O Brasil avançou em todos os indicadores socioeconômicos, do acesso à tecnologia à distribuição de renda, da expectativa de vida à mortalidade infantil e em outras dezenas de índices que mostram um país cada vez mais igualitário.Tudo isso, no entanto, ainda está longe de ser o suficiente para colocá-lo no seleto e desejado clube das nações desenvolvidas. Áreas fundamentais para o desenvolvimento do País como saneamento básico, segurança e infraestrutura ainda registram indicadores de uma nação subdesenvolvida e mostram que o próximo presidente da República terá que olhar para eles com atenção especial se quiser elevar o Brasil à condição de país desenvolvido.

O sistema básico de saneamento é o que melhor explicita os tão emblemáticos contrastes socioeconômicos brasileiros. Em um país que tem aviões modernos como um de seus principais itens da pauta de exportação, 40% dos domicílios não contam nem com a mais rudimentar rede de tratamento de esgoto. Isso significa que quase 90 milhões de brasileiros simplesmente despejam seus dejetos em córregos, rios ou onde for possível. “É uma imagem do século XIX em pleno século XXI”, diz Marcelo Neri, economista e chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas. Para piorar, quase 50% das habitações brasileiras não recebem água tratada e se abastecem do que houver disponível. Os reflexos dessa falta de infraestrutura são sentidos em todos os segmentos do Estado.

O mais visível deles, é claro, está no sistema público de saúde, em que invariavelmente essa população esquecida pelo Estado vai buscar socorro. De acordo com informações do Sistema Único de Saúde, o Datasus, apenas em 2009 mais de 450 mil brasileiros foram internados em hospitais públicos em razão de infecções gastrointestinais. Para cada uma dessas internações, o poder público desembolsou em média R$ 350. Ao final desse ano, o governo federal gastou impressionantes R$ 150 milhões para tratar dessa doença perigosa, de fato, mas que poderia ser facilmente evitada, caso as condições de higiene fossem melhores.

Outro quesito que afasta o Brasil dos países de Primeiro Mundo é a segurança pública. Historicamente a cargo dos governos estaduais, só nos últimos cinco anos é que a questão passou a ser incorporada pelo governo federal e o País começou a dar os primeiros passos na formulação de uma política nacional de segurança pública capaz de integrar os vários níveis de governo nas áreas de risco dos grandes centros urbanos. O problema é que, mesmo com os esforços empregados nos últimos anos, as fronteiras do País continuam um verdadeiro queijo suíço e por elas passam armas e drogas, que alimentam o crime organizado nas metrópoles. Segundo um levantamento mundial da Nações Unidas, cerca de 30 brasileiros são assassinados todos os anos para cada grupo de 100 mil habitantes. O México, que agora ocupa o noticiário mundial em virtude da barbárie das gangues de narcotraficantes, registra 11 homicídios para cada 100 mil habitantes.

A infraestrutura completa o quadro das carências que precisam ser atacadas de forma urgente. Um estudo do Fórum Econômico Mundial classificou o Brasil como um dos piores locais do mundo nesse quesito. Entre as 20 nações pesquisadas, o País conquistou apenas a 17a posição. A nota final brasileira foi 3,4, sendo que a pontuação máxima era 10. A média dos países analisados foi 4,1. O topo do ranking ficou com a França, que obteve uma pontuação de 6,6.

Agora que o País atingiu a estabilidade econômica, controlou a inflação, iniciou a distribuição de renda e atingiu um papel de protagonista no teatro da geopolítica mundial é imperativo que quem quer que seja que assumax o Planalto no dia 1o de janeiro de 2010 passe a olhar com atenção para esses indicadores.

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