Pular para o conteúdo principal

Os excessos dos políticos e o controle da mídia

Liberdade de imprensa e autonomia dos meios de comunicação sempre geram grandes embates e certas declarações polêmicas. O Governo Lula, por exemplo, em muitas ocasiões, já foi acusado de tentar censurar a mídia e estabelecer mecanismos de controle. Os meios de comunicação, por sua vez, foram e são implacáveis com o atual Governo. Reconheço isso, embora não enxergue problema nesta atitude.

A imprensa exerce seu papel de fiscalizar os Governos, que muitas vezes negligenciam o trato com a máquina pública. Sem a presença dos meios de mídia, os políticos se sentiriam (ainda) mais poderosos. Por conta disso, é visto como levante autoritário qualquer tentativa (ou mesmo uma simples declaração) de controle da liberdade de imprensa no Brasil.

Na última segunda-feira, 13, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, protagonista do mensalão, durante uma palestra para petroleiros, afirmou que “o problema do Brasil é o excesso de liberdade de imprensa”. “Dizem que nós queremos censurar a imprensa. Diz que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, [...] abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem. [...] Os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência. Se vocês lerem os discursos do Carlos Ayres Britto [ministro do STF], aquilo não é voto, é discurso político, que a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil, que é um escândalo...”, disse o petista.

Sem ser reacionário ou extremista, não quero potencializar a declaração do ministro, pois ela por si já o faz. Não enxergo na imprensa brasileira o “abuso do poder de informar”. Agora enxergo as constantes “ameaças a liberdade de imprensa no Brasil”. Os veículos de mídia, em quase sua totalidade, fazem a crítica e dão espaço para o direito de resposta. Se o espaço é ideal ou não é outra questão que pode (e deve) ser discutida, mas ainda assim, não enxergo “excesso de liberdade” na imprensa brasileira. Enxergo a liberdade necessária para o cumprimento do seu papel. E olhe que falta muita transparência aos Governos no manejo com o dinheiro público. Há um esforço para que isso mude. Mas ainda não é suficiente.

As declarações de Dirceu não se esgotaram apenas no “excesso”, foram mais adiante. Ele falou ainda da estreita relação entre a mídia e a oposição: “Eles estão preparando a agenda deles para o primeiro ano de governo. [...] O governo sempre é disputado. [...] Com o apoio da imprensa, eles [da oposição] tentam tomar a opinião pública, forçando determinadas definições ou tentar impedir que nós apliquemos determinadas políticas. Ou paralisando no Congresso ou criando um clima na sociedade contrário...”.

A oposição municia a imprensa de informação desde sempre. É uma relação que se torna necessária e é natural que isto aconteça. Cabe aos jornalistas apurarem aquilo que é ventilado pelos opositores do Governo e não se deixaram enganar pelo excesso de denuncismo que toma conta do discurso oposicionista. E é este mesmo excesso de denuncismo que deve ser melhor equacionado nos jornais. Reconheço que a ânsia pelo furo noticioso gere informação inconsistente e que depois de repercutida se mostra inverídica.

Ou seja, não é o controle da mídia que resolverá os problemas da imprensa. Não é o controle ao “excesso de liberdade” que tornará a relação entre Governo e mídia mais amistosa. É necessário mais atenção e cuidado no processo de apuração da informação; e paridade no espaço dado aos envolvidos no fato, principalmente se envolver denúncias.

Mas para além das obrigações da mídia, o importante é que os políticos brasileiros tenham mais zelo com o que público, com o que pertence aos brasileiros. Cabe ao Executivo e ao Legislativo criar primeiro mecanismos de controle para que não se repitam no Brasil casos como o do mensalão e da recente violação do sigilo fiscal da filha do ex-governador de São Paulo. Neste caso sim há um excesso de arbitrariedade por parte daqueles que se consideram donos do Brasil. Para estes, a imprensa precisa realmente exceder os limites da liberdade.

Comentários

Igor Almeida disse…
Informação nunca é em excesso quando circulam para fins democráticos. E justamente aqueles que condenam a liberdade de imprensa são os únicos que não podem falar em "abuso", pois os mesmos abusam do poder para fins ilícitos. O fato é que a imprensa incomoda àqueles que devem, pois se assim não fosse, defenderiam incisivamente a o direito de informar e transparência pública.

Parabéns Valter!!

Postagens mais visitadas deste blog

Erotização da música influi na precocidade sexual da criança

É comum vermos crianças cada vez mais novas cantando e dançando ao som de refrões carregados de sexualidade, utilizando roupas e calçados impróprios para essa fase. As músicas erotizadas se tornam febre entre meninos e meninas em todo o país, mesmo sem muitas vezes terem conhecimento do que estejam ouvindo ou dançando. Mas qual a influência dessas músicas no desenvolvimento da criança? De que modo a letra de uma canção pode influenciar o comportamento infantil? Para a psicóloga Aline Maciel, músicas de cunho apelativo com letras que tratem de sexo estimulam a iniciação sexual precoce entre meninos e meninas. Segundo ela, “músicas com uma carga sexual muito forte aliadas a coreografias sensuais fazem com que as cria nças tenham acesso a elementos que não são adequados a sua faixa etária, induzindo comportamentos inadequados”. O artigo A música e o Desenvolvimento da Criança, de autoria da Doutora em Educação Monique Andries Nogueira, atesta que a música tem um papel importante nos aspec

Verão Sergipe 2011 só na Caueira

Foto: Alejandro Zambrana A edição 2011 do Verão Sergipe não ocorrerá em etapas. No próximo ano apenas a Praia da Caueira, em Itaporanga d’Ajuda, receberá o evento. Será nos dias 4 e 5 de fevereiro. Por conta das dificuldades financeiras que o Estado enfrenta e pela obra de implantação da Orla na Praia da Atalaia Nova, a programação de 2011 não ocorrerá em vários municipios, como nos anos anteriores. Neste 2010, por exemplo, o Verão Sergipe foi realizado na Caueira, em Laranjeiras e na Barra dos Coqueiros. Antes, em 2009, ele também passou por Pirambu. A secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, afirma que o evento já é marca consolidada para a cultura e o turismo no Estado, por isso, mesmo com as dificuldades financeiras, o Governo de Sergipe não poderia deixar de realizar a festa. “Na sua terceira edição, o evento cresceu, ganhou contornos mais culturais e atraiu multidões por todos os lugares pelos quais passou. Infelizmente este ano, por conta de diversos fatores não p

Lambe-sujo e Caboclinhos: a cultura viva

A força de uma cultura se revela na capacidade de agregar, envolver e orgulhar. Em Laranjeiras, isso se concretiza durante a “Festa do Lambe-Sujo”, folguedo sergipano encenado todos os anos no 2º domingo de outubro. No folguedo, os negros (lambe-sujos) lutam contra a tentativa dos índios (caboclinhos) de destruírem os quilombos. A partir das imagens captadas pela fotojornalista Ana Lícia Menezes é possível perceber o quão forte é a cultura local e a crença no folguedo. Carregado de simbolismo, o folguedo envolve crianças, jovens e adultos, que se apossam da história da terra para se divertir, se alegrar e manter viva a cultura. Logo cedo, os lambe-sujos se espalham pela cidade, desde a entrada até a praça central de Laranjeiras. Assim, demarcam território e mostram que estão prontos para o combate. Em maioria, os lambe-sujos também ocupam a área próxima à igreja, onde recebem a benção do padre, antes de iniciar os embates. Fortalecidos pela oração e crentes em sua fé, os l