Pular para o conteúdo principal

Homossexualidade na África e no Brasil: extremos da aceitação e do preconceito

Duas reportagens sobre a homossexualidade me chamaram a atenção neste começo de semana. A primeira – exibida ontem no Fantástico – mostra que em Uganda, na África, um deputado propôs um projeto que deve condenar gays à pena de morte. A segunda matéria – e que foi manchete do Jornal da Cidade de ontem – revela quem em Sergipe a Justiça reconheceu quatro uniões homoafetivas de junho de 2009 até hoje. Ou seja, enquanto nesta parte do mundo, as ações pró-homossexuais avançam, do outro lado do oceano, a situação para gays e lésbicas tende a piorar com o surgimento de uma lei que levará a morte todos aqueles que se declararem homossexuais ou que forem denunciados pela sua orientação sexual. Situação paradoxal!

De acordo com a reportagem do Fantástico, a homossexualidade já é crime em Uganda, mas só há prisão em caso de flagrante. A maioria da população do país africano concorda com o projeto. Na visão do Governo, ‘combatendo’ a homossexualidade se combate a Aids. Um milhão de pessoas tem o vírus HIV em Uganda.

De um modo geral, o continente africano é o lugar mais perigoso e pior para um homossexual viver. Em mais de 30 países da África, a homossexualidade é crime, com penas que variam desde multa equivalente a R$ 300 até a prisão perpétua. A exceção é a África do Sul, país da Copa. Desde 2006, lá é permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Já no Sudão, na Mauritânia e em algumas partes da Somália e da Nigéria, a punição para gays é a pena de morte.

Aqui, em Sergipe, como no resto do Brasil, a oficialização de relações homossexuais ainda não é permitida, mas em alguns casos, a Justiça reconhece os contratos de união estável entre pessoas do mesmo sexo. Na reportagem do Jornal da Cidade, há a ressalva de que o ‘preconceito contra homossexuais no Brasil ainda é forte’, mas, em contrapartida, ‘os direitos começam a ser respeitados’. “A união homoafetiva é um assunto discutido na sala de aula pelos professores. Os juízes têm uma aceitação muito boa, alguns pedem um tempo para estudar melhor o assunto, mas as decisões têm sido favoráveis”, explica Ludmila Souza, que é estagiária de Direito do Centro de Referência de Prevenção e Combate à Homofobia.

Segundo a coordenadora do centro, a psicóloga Cláudia Andrade, em dois anos de atividades, comemorados na semana passada, muitas vitórias podem ser contabilizadas. “Trabalhamos muito com atendimentos jurídicos, psicológicos e sociais, como também conscientização e capacitação”, explica. Os travestis compõem o maior público do centro. “São os que mais sofrem com o preconceito e a discriminação. Muitos são vítimas de agressões morais e físicas”, informa a coordenadora.

A situação na África é extremada, o que difere em muito da situação do Brasil, onde a liberdade de expressão dos homossexuais cresce a cada dia. No entanto, ainda não se vive em plena condição de igualdade com os heterossexuais. Hoje, se aceita com mais facilidade do que há alguns anos atrás a homossexualidade, o que pode ser percebido no maior número de pessoas que se assumem gays e lésbicas. Mas o preconceito ainda é latente nos olhares, nos risos, nos comentários.

Se o país já avançou e se Sergipe apresenta alguns sinais dessa evolução, espera-se que no período ainda mais breve todos tenham liberdade de expressão, de comportamento e de relacionamento. Hoje é bem mais fácil respeitar e conviver com aquele gay que mantém os mesmos hábitos de um homem heterossexual do que com um travesti, o que revela a carga elevada do preconceito e da discriminação. Que isto mude e que todos – sem exceção – possam ser felizes, sem correr risco de sofrer qualquer tipo de agressão. Além disso, que pais e familiares também optem pelo caminho da aceitação e do respeito.

Comentários

Eloy Vieira disse…
Putz, eu vi a matéria no fantástico ontem, tá certo, tb acho um absurdo, mas eu consigo ver as coisas com uma certa relativização, tento não encaixar o pensamento deles (os africanos) na sociedade em que vivo. Eu acho que ainda falta tolerância, tanto aqui, que nos consideramos superiores a eles nesse aspecto, quando deles, que condenam homossexuais à morte.

Tolerância, é a palavra certa.
Anônimo disse…
Eu acompanhei a questãio de Uganda através de uma série de reportagens na Folha. Fiquei boquiaberto com tamanha ignorância. E acho super válido que Sergipe comece a dar passos tão largos e tão importantes. Isso mostra o quanto a intolerância, no nordeste - onde o número de crimes homófóbicos ainda é grande - pode dar lugar a sentimentos mais nobres. Os juízes sergipanos estão de parabéns; os casais, idem; O Jornal da Cidade e a imprensa sergipana, que costuma tratar da homossexualidade com uma delicadeza incrível, ibidem. E a sociedade que enxergue todos os gays como cidadãos e todas as coisas que isso implica.

;D

Abração!
Rafaella Vieira disse…
Parabéns pela matéria. Assisti a matéria do Fantástico e lamento saber que existe tanto preconceito no mundo. Coisa mais brega!
Vc arrasou no texto. Ficou muito bom!
beijoss

Postagens mais visitadas deste blog

Erotização da música influi na precocidade sexual da criança

É comum vermos crianças cada vez mais novas cantando e dançando ao som de refrões carregados de sexualidade, utilizando roupas e calçados impróprios para essa fase. As músicas erotizadas se tornam febre entre meninos e meninas em todo o país, mesmo sem muitas vezes terem conhecimento do que estejam ouvindo ou dançando. Mas qual a influência dessas músicas no desenvolvimento da criança? De que modo a letra de uma canção pode influenciar o comportamento infantil? Para a psicóloga Aline Maciel, músicas de cunho apelativo com letras que tratem de sexo estimulam a iniciação sexual precoce entre meninos e meninas. Segundo ela, “músicas com uma carga sexual muito forte aliadas a coreografias sensuais fazem com que as cria nças tenham acesso a elementos que não são adequados a sua faixa etária, induzindo comportamentos inadequados”. O artigo A música e o Desenvolvimento da Criança, de autoria da Doutora em Educação Monique Andries Nogueira, atesta que a música tem um papel importante nos aspec

Verão Sergipe 2011 só na Caueira

Foto: Alejandro Zambrana A edição 2011 do Verão Sergipe não ocorrerá em etapas. No próximo ano apenas a Praia da Caueira, em Itaporanga d’Ajuda, receberá o evento. Será nos dias 4 e 5 de fevereiro. Por conta das dificuldades financeiras que o Estado enfrenta e pela obra de implantação da Orla na Praia da Atalaia Nova, a programação de 2011 não ocorrerá em vários municipios, como nos anos anteriores. Neste 2010, por exemplo, o Verão Sergipe foi realizado na Caueira, em Laranjeiras e na Barra dos Coqueiros. Antes, em 2009, ele também passou por Pirambu. A secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, afirma que o evento já é marca consolidada para a cultura e o turismo no Estado, por isso, mesmo com as dificuldades financeiras, o Governo de Sergipe não poderia deixar de realizar a festa. “Na sua terceira edição, o evento cresceu, ganhou contornos mais culturais e atraiu multidões por todos os lugares pelos quais passou. Infelizmente este ano, por conta de diversos fatores não p

Lambe-sujo e Caboclinhos: a cultura viva

A força de uma cultura se revela na capacidade de agregar, envolver e orgulhar. Em Laranjeiras, isso se concretiza durante a “Festa do Lambe-Sujo”, folguedo sergipano encenado todos os anos no 2º domingo de outubro. No folguedo, os negros (lambe-sujos) lutam contra a tentativa dos índios (caboclinhos) de destruírem os quilombos. A partir das imagens captadas pela fotojornalista Ana Lícia Menezes é possível perceber o quão forte é a cultura local e a crença no folguedo. Carregado de simbolismo, o folguedo envolve crianças, jovens e adultos, que se apossam da história da terra para se divertir, se alegrar e manter viva a cultura. Logo cedo, os lambe-sujos se espalham pela cidade, desde a entrada até a praça central de Laranjeiras. Assim, demarcam território e mostram que estão prontos para o combate. Em maioria, os lambe-sujos também ocupam a área próxima à igreja, onde recebem a benção do padre, antes de iniciar os embates. Fortalecidos pela oração e crentes em sua fé, os l